“O BOI DA CARA PRETA!”
a fantasia do medo!
Quem na vida já não teve
ou não tem um medo se quer? Quem já não deixou de ir a algum lugar por medo de
não conhecer? Ou deixou de ir até a cozinha tomar um copo d’água porque estava
muito escuro? Ou até mesmo ficou a noite inteira acordado querendo ir ao
banheiro, mas não foi porque ouviu um barulho estranho?
São muitas as
histórias de medos diários em nossas vidas! Medos concretos, reais,
imaginários, simbólicos, enfim, medos e mais medos que nos paralisam, nos
impedindo, às vezes, de algo novo, de uma conquista nova, de uma vida
diferente!
Mas de onde vêm
tantos medos assim? Vários são os motivos!
Tudo inicia lá na
nossa infância, quando ouvimos estórias fantásticas e assustadoras, contadas
por nossos pais, irmãos, avós ou amigos! Estórias estas recheadas de mistérios,
de situações conturbadas, momentos tensos e intensos de fantasias e sonhos!
Muitas vezes,
sonhamos com essas estórias, e acrescentamos mais e mais mistérios e fantasias.
Incluímo-nos nelas e vivenciamos arduamente cada cena, como se fossem reais!
Tornamo-nos heróis
e vítimas em cada estória contada!
Ao mesmo tempo, em
que vivenciamos toda esta emoção, infelizmente também crescemos com a imagem do
medo imposto e declarado como castigo e ameaça, através de tentativas
frustrantes e infelizes de nos educarem!
Quem, quando
criança, não foi ameaçado em ser dado para o “homem do saco”? Quem não ouviu
pelo menos os mais antigos, que se não ficasse quieto “a cigana iria passar por
ali e roubá-lo?” Ou até mesmo que “seria deixado na FEBEM”? Ou quem sabe “o boi
da cara preta vêm de noite pra te buscar”? Sem falar na bruxa malvada, no boi
tatá, no lobo mau, enfim, tantas imagens distorcidas gerando medos, ansiedades
e inseguranças!
Se cada adulto
imaginasse o estrago que é em uma criança esse tipo de informação! Acredito que
mais ninguém o faria! Se imaginassem que muitos problemas, enquanto adultos,
que são trazidos e resolvidos em um consultório psicológico, são oriundos
destas estórias e ameaças infantis... acho que mudariam de tática para
conseguir educar seus filhos!
Medos, medos...
Por outro lado,
existem os medos saudáveis, aqueles naturais, necessários para ativar nosso
instinto de sobrevivência. O medo de morrer, de ficar sozinho, de se machucar,
de não ter o que comer, enfim, medos mais simples que nos fazem movimentar com
a vida para que estudemos, tenhamos um emprego, amigos, familiares, vontade de
viver, de divertir-se, de manter a saúde, de proteger-se, enfim, atos necessários
para nossa integridade física e emocional!
Não aqueles medos
que nos congelam diante de uma decisão a ser tomada, pois o medo é maior que a
ação, o medo de ser atacado pelo “lobo mau” é maior do que a necessidade de
dizer que não quer mais! Seja para um trabalho, para um relacionamento, para
uma situação constrangedora.
A insegurança
gerada pelo medo é o que mais impede uma pessoa de seguir em frente com seus
planos, suas metas e ideais. O medo do fracasso está relacionado à tormenta
infantil de não ser forte o suficiente para vencer seus algozes! (homem do
saco, bruxa, FEBEM, e assim por diante).
Além destes medos
da fantasia, existem os reais, aqueles relacionados aos seus cuidadores! Medo
de apanhar, de ser xingado, de levar um tapa, de ser abusado, enfim, tantos
medos diante de seres tão grandes e tão fortes! E depois, como lidar com tudo
isso na vida ali fora? Como enfrentar chefes, autoridades, colegas mais velhos
ou mais experientes, pessoas que naturalmente passam a mensagem de poder, de
força, de ameaça constante? Medos...
Eles não nascem do
nada! Nascem de uma educação repleta de ameaças, de duvidas, receios e
fantasias!
Cuidemos da forma
como lidamos com nossas crianças, pois elas são os adultos que nos tornamos!
Cuidemos para que
os medos sejam apenas os mais naturais possíveis, os que nos servem para nos
proteger, e não nos que se transformam nos que vão nos destruir!
Uma infância
sadia, é um adulto equilibrado amanhã!
Psic.
Nalú Vieira Alves