O Despertar
Por Psic. Nalú Alves
Desta vez não
vou escrever sobre algum assunto terapêutico, sobre alguma linha teórica ou
sobre algum significado metafísico. Quero falar apenas de sentimentos que
permeiam a todo instante minha alma e que me faz pensar intensamente em como
aliviar ou amenizar a dor de alguém que perde, de uma única vez, tantos entes
queridos!
Certamente não tem o que ser feito ou que ser dito ou ser
tentado! Apenas ouvir! Apenas deixar calar na alma aquele sentimento de
frustração, de impotência, e abrir-se para o ato maior que é o de acolher em um
abraço e ofertar uma escuta.
Lágrimas é o que mais se vê. Lamentações é o que mais se ouve.
Gritos engolidos, sufocados, doidos! Nada mais a fazer a não ser deixar que a
dor fale alto e que os ouvidos sirvam de materiais ativos de alivio para a dor
da perda.
Perder uma pessoa que se ama já é uma dor sofrida, vários é incalculável.
Quando acolhemos uma mãe que perdeu um filho, olhamos pra ela e
dizemos: “chora mas não desista, tens outros precisando de ti.” mas e para
aquelas tantas que perderam todos seus filhos, o que dizer? O que expressar?
Como olhar nos olhos destas mães e confortar com alguma palavra de sabedoria?
Basta e resta-nos calar!
Sim, somos sabedores do luto coletivo, da identificação com a
dor, da projeção de nossos sofrimentos, enfim, tantas e tantas teorias... No
entanto, será que somos sabedores da necessidade de neste momento apenas
acolher, abraçar, dar o ombro, um beijo confortador, e solidariamente, ouvir e
entender? Nossas teorias são ótimas, com certeza, mas nossa prática de empatia,
troca, envolvimento e sabedoria, em momentos únicos, vale muito, mas muito mais!
Entender que tudo acontece na vida com a permissão Divina e que
em tudo temos algo a aprender é importante, mas neste primeiro momento, o que
basta é deixar que essas pessoas gritem e lamentem por seus mortos, pois o
entendimento virá depois!
Estes desencarnes coletivos são programados, projetados, são
momentos de crescimento e evolução para cada um daqueles seres que lá estavam,
sim é de suma importância entender, entretanto, em um outro momento, pois
agora, é o instante em que o que se precisa é o entendimento do sentir, do
falar, do expressar o tão conhecido: “porque com ele (a)?”
Tudo ao seu tempo, até mesmo o aprendizado de uma perda. No
inicio negamos profundamente, depois vem à sensação de impotência, de fracasso,
de fraqueza, pois diante de tudo que sabemos e podemos, não conseguimos evitar
o ocorrido!
Lamentar não mais será necessário, pois a constatação da morte
será inevitável. Daí sim será mais ainda necessário acompanhar de perto
cada uma destas pessoas que estão neste momento, vivendo seu luto de forma
intensa!
Aos que foram? Bem para estes muita, mas muita oração. O luto
não é somente nosso, mas deles também. Adaptar-se a uma nova vida a uma nova
situação e existência. Não, não é fácil. Por isso, a eles muita oração! Orar a
Deus e aos anjos, para que estes seres tão jovens encontrem a luz e o caminho
da total libertação da alma. Para que consigam, de longe, acolher amorosamente
aqueles que aqui ficaram e que aqui tentaram de inúmeras formas, continuar suas
vidas na esperança e expectativas de um dia se reencontrarem.
Bem, acho que era isso que eu queria expressar. Ouçam mais, mas
não necessariamente apenas estes que estão envolvidos nesta tragédia, mas a
todos que os cercam. Acolham sempre e a todo o momento. Abram seus corações sem
medo de serem felizes e muito menos de serem verdadeiros!
Neste momento vamos rezar para todos, os que foram e os que
ficaram. Cada um, com certeza, necessita de muita fé e de muito amor!
Que assim seja!
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